sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ladrão de galinhas, ladrão de faisões

Existem inúmeras situações no quotidiano de muitos brasileiros que não vão aos noticiários – cito os brasileiros por serem nossos patrícios, por nos sentirmos à vontade, e por questão de que roupa suja (da casa) se lava em casa.
No entanto, foram muitas as vezes em que presenciamos a justiça do país condenando, ainda que por breve tempo, ou breves constrangimentos, cidadãos culpados por furtarem potes de margarina, leites, alimentos, e outros. A pergunta é: como a sociedade brasileira, sem poder e status, deve reagir para com os que com poder e status sonegam quantias exorbitantes em suas duvidosas transações financeiras, que no fundo, são informações financeiras ocultas, informadas da mesma forma como uma mulher coloca um pote de margarina debaixo da blusa?! Bem, ao menos a margarina só irá servir para passar no pão, de forma que suas crianças sejam devidamente alimentadas – um sonho difícil de tornar realidade; já as sonegações proporcionam altos negócios ilícitos que fingem serem lícitos – uma realidade transformada em pesadelo. Sem contar com os nepotismos, as concessões de prestação de serviços públicos que trafegam como meretrizes, desmoralizando os cofres públicos e os homens públicos.
O grande problema do nosso Brasil, é que suas gavetas e armários administrativos estão abarrotados de canalhices e de caráter putrefado. É revoltante assistir tantos representantes populares, acusados de desvios financeiros nada modestos, caminhando para lá e cá, como se nada tivera ocorrido. Não há voz de prisão a estes distintos cidadãos, não há um magistrado sequer que, em nome de sua honradez, verdadeira, honesta, e corajosamente, os coloquem em seu lugar devido (regime de prisão fechada). De fato, a justiça não enxerga, não ouve, não sente, não cheira, não possui memória, não merece nosso respeito.
Os que roubam galinhas são condenados e presos, caminhando dentro de “bondes” prisionais, para cumprimento da justiça. Os que roubam faisões são absolvidos sem julgamento, e desfilam em suas limusines diferenciadas por placas especiais, ou veículos importados, que equivalem a um grande número de margarinas adquiridas, e que sendo distribuídas aos necessitados, os dignificariam. Ladrões de galinhas não deixam de serem ladrões, mas os que roubam faisões, no final das contas, asseguram que são os faisões os culpados.
O que me consola é que felizes são os pobres, desafortunados, perseguidos e esquecidos, que são constantemente explorados pelos afortunados, sobretudo de descaso. Não tenho dúvida que o poder fede, por motivo de seus podres poderes. Diante disso, creio na existência de um Deus que além de tudo o que representa e significa, promove sua própria justiça, se reconciliando com o errante necessitado e arrependido, mas que pesa sobre aqueles que o desprezam, uma vez que desprezam o ser humano. O ser humano desprezado é, na verdade, o próprio Deus desprezado.
Não sei qual é seu senso de justiça, mas acredito que o preço do faisão ainda seja maior que o da galinha. E que talvez, caso sobrassem mais faisões, não faltaria galinha para ninguém.

francamente,
joerley@gmail.com