terça-feira, 30 de outubro de 2007

Aborto e criminalidade

Joerley Cruz

O atual governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, segundo a Folha de São Paulo (25/10/2007), afirmou o seguinte:

"Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal. O Estado não dá conta. Não tem oferta da rede pública para que essas meninas possam interromper a gravidez".

Pelo que tudo indica, o governador não conhece Zâmbia, nem menos Gabão, o que o faz desprovido de informação. Em relação às suas funções administrativas, ele também desconhece o Estado que governa, uma vez que, mesmo os mais favorecidos, em nada se assemelham ao padrão sueco, sendo que sua obrigação como funcionário público é se preocupar com o padrão carioca, que no período pré-eleição ele se mostrou tão amável e apaixonado aos fluminenses.
De outra forma, a marginalidade também é produto de um descaso governamental. Pior, mesmo, é constatarmos que a marginalidade brasileira reina no âmbito do colarinho branco, onde homens e mulheres com olhares dóceis e meigos, com crianças em seus colos, na verdade se transvestem de vovózinha, mas escondendo uma identidade de lobo mau. Essa marginalidade atinge o padrão sueco. Ainda sobre a fábrica de marginais, é evidente que o Estado não dá conta, aliás, o Estado não dá conta da saúde nos hospitais públicos, onde testemunhamos desumanidades em relação aos baixos salários dos médicos, e dos esquecidos e lotados corredores-quartos; o Estado também não dá conta da educação, sendo esta, uma solução inteligente contra a marginalidade. Mas o Estado dá conta de sustentar sua própria marginalidade moral e ética, tentando justificar suas palavras e atos, e caracterizando a população e a imprensa como idiotas, como se ninguém entendera suas declarações.
Por outra via, mas na mesma declaração, o governador declara: "Sou favorável ao direito da mulher de interromper uma gravidez indesejada. Sou cristão, católico, mas que visão é essa? Esses atrasos são muito graves." O que podemos perceber é que muitos marginais nascem em berços esplêndidos. Até porque quem compra droga é quem tem dinheiro, e às vezes, detém um pouco de poder. Dar direito ao aborto é restringir a possibilidade de vida. Se o Estado desse conta da educação, todos os desfavoráveis, que não se assemelham ao padrão sueco, estariam fugindo da marginalização e reeducando seu controle de natalidade. A questão talvez possa ser: legalizar o aborto para que a marginalidade seja aplacada, não dando o direito ao pobre em escolher ser um marginal ou um presidente da república, ou deixar os marginais crescerem para que a tropa de elite entre em cena e promova outros eleitorados. O ser humano é fruto das mãos de Deus, o Criador - somente Ele conhece o método de criar, somente Ele conhece o onde e quando a criação volta ao Criador. Outra infelicidade é que o governador não sabe o que é ser cristão. Os cristãos não matam, e manter a vida não é um ato de atraso, mas de submissão ao Criador. A vida do ser humano não está nas mãos dos que usam canetas para aprovar e desaprovar o que lhes interessa, mas é Deus quem dá as cartas...
São momentos únicos na política brasileira, onde governantes são verdadeiramente honestos, falam o que realmente pensam... e nós, então, passamos a conhecê-los de fato.

francamente...
joerley@gmail.com

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