segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O Progresso econômico contra os valores humanos

Joerley Cruz

"Tens ouvido, Senhor, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acudirás, para fazeres justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem, que é da terra, já não infunda terror". (Salmo 10,17-18).

“O Rio São Francisco é uma das maiores riquezas naturais do nosso país e vem sofrendo com as violentas ações do desmatamento, o assoreamento, a poluição, as barragens e o avanço indiscriminado do agronegócio na Caatinga e no Cerrado. Sabemos da importância de um projeto de revitalização para o 'Velho Chico', mas a obra de transposição não se coloca como a alternativa capaz de solucionar os problemas do semi-árido brasileiro. Ao contrário do que se tem colocado à população brasileira, a obra de Transposição do Rio São Francisco só vai beneficiar a produção de etanol, a criação de camarões, a produção de frutas nobres e o aço. Todos estes produtos direcionados para a exportação, beneficiando, diretamente, as grandes empresas, o capital privado nacional e internacional. Este projeto representa a privatização da água. Desde o dia 27 de novembro de 2007, Frei Luiz Cappio, Bispo da Diocese de Barra, Bahia, retomou seu jejum e suas orações em protesto à implementação do projeto de Transposição. Este ato se coloca como uma tentativa de dialogar, novamente, com o Governo Federal, que tem se mostrado irredutível em abrir para a sociedade um diálogo consciente e construtivo quanto às alternativas de melhoria das condições de vida dos povos do sertão brasileiro.” (CARTA DO RIO PELA VIDA DE DOM CAPPIO E CONTRA A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO).

O Vaticano se pronunciou em relação ao jejum de Dom Cappio, alegando não ser coerente com as práticas cristãs, na visão romana, e pedindo com que ele cesse o jejum. No entanto, o jejum de Dom Cappio não está baseado em questões espirituais, mas é uma manifestação que expressa sua indignação pessoal, e de representatividade pública de muitos brasileiros, ao desrespeito àquilo que o homem não tem o direito de intervir – a natureza criada por Deus – ainda mais quando tal intervenção é feita em nome dos maniqueísmos político-econômicos de um sistema capitalista calhorda, que se caracteriza como avesso ao belo, essencial, simples, e natural.
Estão em jogo os interesses políticos, econômicos, e empresariais de pessoas inescrupulosas, que honram seus próprios interesses medíocres e mesquinhos, em nome de um progresso econômico particular, explorador, agressivo, que não mede as conseqüências, nem muito menos possui direitos legais para tal.

Por outro lado, em São Paulo, próximo à marginal Pinheiros, enxergamos atitudes ainda governamentais em retirar moradores de uma comunidade que invadiu uma área desocupada que possui como proprietário um órgão governamental (EMAE); porém, somos obrigados a assistir o mesmo governo e seus órgãos se omitindo em fornecer moradia aos que comprovam a impossibilidade de morar.
Contemplamos uma atitude de retirada, contra a omissão de um ato de reintegração. A questão seria reintegrar e não retirar somente. Todavia, é o nosso governo defendendo o que é dele. São os poderosos em favor do seu poder. O pior de tudo é o desvalor humano. A primeira coisa que esses senhores dizem em defensiva, é o fato de que essas famílias são oportunistas com relação à área. No entanto, me parece que oportunismo é a dominação de terra sem uso. Talvez, o entendimento desses senhores seria mais aguçado caso um dos seus queridos estivessem naquelas condições. Mas, por que se importar com futuros desabrigados? O importante para os homens do poder é manter a ordem governamental, não importando as condições humanas básicas.
É vergonhoso. Sinto vergonha em falar o mesmo idioma desses que governam pessoas, mas entesouram suas terras e interesses. Sinto nojo daqueles com os quais sou obrigado a transitar e pisar em um mesmo solo, num país tão belo e maravilhoso, mas ao mesmo tempo tão sujo e manchado por homens que possuem apenas os seus colarinhos esbranquiçados. É asqueroso testemunhar governos interessados em transposição de obras naturais, em nome dos seus próprios “negócios”. Terra e água: são vistos como fontes de dinheiro para os já endinheirados, os mesmos que são incansáveis em sorrir para nós, dizendo que está tudo bem... bem mesmo, vai ficar quando o Justo Juiz vier e mostrar Quem manda em tudo isso, e colocar os podres nos seus devidos lugares...

francamente...
joerley@gmail.com

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